terça-feira, 1 de outubro de 2013

Descatraque-se





Elas estão constantemente presentes aqui e ali, dentro da rotina caótica e alucinante que vivemos. Pelo menos pra mim, que fase... Digamos que, de certa forma, elas democratizem. Todos precisamos dos mesmos requisitos por ali passar, seguir, adentrar.

É fácil dizer que as catracas atrasam a vida. Bloqueiam caminhos. Fazem a gente tropeçar na escada procurando dentro da bolsa a maldita carteirinha magnetizada (e nessa hora é capaz de aparecer até um hipopótamo lá dentro, mas o cartãozinho que é bom, nada). 

Seja em forma de papel pra sair do estacionamento do shopping e ter que quase se jogar do carro pra alcançar o leitor magnético e fazer a vozinha de ‘’obrigada, volte sempre’’ se calar (e quando eu achava que uma anã morava lá? Mas, enfim, crianças...) ou pra registrar seu ponto no trabalho, nos acostumamos com aquela barra de metal eletrônica.

Quem nunca teve o corpo prensado numa dessas numa manhã chuvosa? Sei lá. Desde que eu comecei a perceber a presença um tanto quanto desconcertante delas, passei a fazer analogias um tanto quanto pertinentes (só na minha cabeça, claro).

Criamos catracas em volta de nós o tempo todo. Invisíveis, que mudam de lugar conforme nossa vontade. Não autorizamos a entrada de quem não conhecemos, de quem não preencheu o cadastro, tirou foto e deu até o cpf da sogra pra conseguir entrar no sistema. 

Muitas vezes, cobramos um valor (emocional) excessivamente alto pra quem perdeu o tíquete de saída, a comanda de consumo na balada, pra quem, em geral nos decepcionou. Desistimos das segundas chances. As vezes, nem das primeiras fazemos questão. Ou, principalmente, nos perdemos entre quem deveria ser a prioridade da nossa lista lá da portaria...

Atrasamos a vida por criar esses obstáculos de metal transparentes, deixando planos para trás, por quem sabe, preguiça de encontrar o crachá dentro da bolsa e entrar em novas possibilidades.

Os tropeços nessa busca sim devem continuar. Quem sabe o que deve mudar então, seja a forma que buscamos. 

Aliás, que segurança essas catracas imaginárias trazem? Impedir o acesso de ideias, pessoas, vontades novas, simplesmente por não terem um histórico, uma ficha, uma consulta marcada no sétimo andar? 

Acho que não, né?

Não existe um verbo pra deixar as catracas de lado. Descatraquize? Descatraque-se? 

Quer saber de uma coisa? Só dá uma chance pro novo. Só se liberte do que te prende, seja uma catraca, um medo, uma voz.

Pula essa catraca, vai viver. (Ou pelo menos, já deixa separado o que quer que seja que libere sua passagem.)



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