segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Seus olhos



‘’Dois metros nos separam. Algumas pessoas, perfumes, a fumaça do cigarro alheio. Um vento, um telefone tocando, e de repente, um silêncio.

Será que é só dentro de mim, que fica esse misto de sensações? Hoje só existe isso entre nós dois e parece um vidro blindado, mesmo que invisível aos nossos olhos. Ao meu ver, ao que eu ainda sinto quanto você está por perto...

E talvez, o que me prenda tanto não sejam os sorrisos, ou como nos cumprimentamos, nem a forma como você caminha. É puro e simplesmente, como você me olha.

É o que parece preso dentro de você e o que eu não tenho coragem de dizer na sua frente. É um silêncio mais alto que qualquer barulho. A respiração é mais pesada que as compras do supermercado que eu carrego sozinha.

Meu medo é que seja indiferença. Que seja um reflexo das falhas do passado e que você só me olhe assim por não saber mais o que me dizer. Mas, ainda há tanto. Tantas coisas, que por mais redundantes que sejam, eu gostaria que você ouvisse. Tantas frases que eu quero ouvir de ti.

Meus joelhos tremem enquanto te observo nesses dois metros. Você não percebe que quanto mais perto eu chego de você, mais eu quero que você se aproxime?

Não é intencional. É impulsivo.

Não são só os cinco segundos, os dois metros, o silêncio. São as memórias de dois anos, são as bagunças aqui dentro.

É você. São seus olhos.’’

De novo.

Escrito em 15/05/12




”Sibilava letras de músicas decoradas e fechava os olhos. Mas não conseguia mantê-los assim por muito tempo. Tempo? Parecia tudo tão rápido e num ritmo que suas pernas já não acompanhavam e entre ruas, esquinas, passos e pulos, tropeçava. Por não saber pra onde queria ir, se perdia. Em fotos, em textos, em livros, em romances que se tornavam lembranças distantes. Se tornara uma vítima de seus próprios pensamentos. E eram tantas coisas que ela queria abraçar que simplesmente não cabiam no espaço de um abraço. E eram tantos sentimentos que ela queria expressar e que em palavras não conseguia. E eram tantos sorrisos que ela imaginava em sonhos, mas que no meio da noite, perdiam sentido. Não podia dizer que faltava algo, porque no fundo, nada é completo. Sempre faltaria algo, não superficial, mas quem sabe espiritual, ou interno. Será que era medo de falhar ou só falta de coragem de tentar? Por trás do moletom azul, do cabelo milimetricamente penteado e do rímel preto, dentro e lá no fundo ela só pensava no quanto inconstante o turbilhão de sensações era. E o quanto queria mudar e crescer, e finalmente… ser. Quem? Alguém que ela não reconhecia mais e que agora, depois de tudo e ao mesmo tempo, nada, ela buscava reencontrar e entender. Se entender, se permitir. Se permitir sentir. De novo, e tudo de novo, o novo.”

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

No escuro






‘’Porque é exatamente no momento em que meus pensamentos vão longe que você coloca meus pés bem no chão. Ou ao contrário. É no meu desespero que a luz que você traz se vai e tudo que eu queria vira pó. Quando você não está eu viro um espaço sem nome, com medidas infinitas. E quando eu te vejo, quando seus olhos perdidos encontram minha angústia, eu sinto como se tivessem arrancado um pedaço de mim. 

Simplesmente, é pior sentir não podendo. É contraditório e impulsivo o que você desperta em mim, seja de perto ou de longe. Conscientemente ou apenas por meio segundo, um turbilhão de coisas passam ao meu redor, e parada, me sinto tonta. E tudo isso, é como colher mil pedaços de cartas que você nunca leu, como se minhas metades perdidas estivessem todas dentro do bolso daquele moletom que eu amava, que você deixou no fundo do armário. Como se de jeitos improváveis, ficasse cada vez mais claro, que no escuro que eu tinha ao seu lado, era meu devido lugar. 

E aí, eu me perco naqueles caminhos que tracei do seu lado, ou tentando incansavelmente chegar no seu abraço. E permanece a vontade de te dizer restos de coisas que eu já nem sei o que, porque, no fundo, tudo já foi dito. O que eu precisava colocar pra fora, já foi suspirado por ventos em todas as estações do ano. Me provoca arrepios. Me deixa sem rumo, mesmo sabendo que você continua sendo meu destino final.  Todas as cordas bambas que eu piso só me fazem acreditar num possível cada dia mais impossível. 

De todos os mistérios que você prometeu revelar, eu só preciso de um. Só quero ter a chance de tentar o certo, pra no fundo, descobrir que era errado. Que somos errados. Porque isso, essas meias verdades não me bastam e não sustentam os bloqueios que criamos ao longo tempo. Nada é capaz de destruir o que minha mente criou e nenhuma força empurra pra longe as intermináveis dúvidas. Meu orgulho não permite que eu caminhe e você não tem coragem de me dar as respostas.  Você não quer falar, e no fundo, eu não quero ouvir. Te escutar significa que você pode entregar os pontos. E eu, eu não quero desistir do jogo. ’’

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Términos.

Escrito em 23/03/13






”Ouvi dizer que a vida é feita de escolhas. Que cada passo que você dá, uma decisão nova foi feita. Cada obstáculo é a chance de tentar o impossível. Términos são parte importante do nosso dia-a-dia. São eles que nos fazem acreditar no amanhã, no futuro. 



Pode ser terminar um curso de inglês, um namoro, uma receita, uma amizade, um livro. Sem os términos não haveria porquês. Não haveria novidade, recomeço. Digo, não haveria mudança. Não tomaríamos novas decisões. Não teríamos motivos. Não iríamos à luta, não iriamos ter atitude. É preciso terminar para de fato começar. 



É preciso descobrir pelo que se vale a pena gastar energia, tempo, dinheiro. É necessário escolher pelo que se quer terminar. O que é que eu gosto tanto, a ponto de ir até o fim? Ou o caminho inverso… O que é que eu odeio, que seja necessário por um fim? O que não me acrescenta, que eu devo deletar? Terminar não é fácil, mas, na minha opinião, é preciso. É preciso terminar para continuar andando, buscando. Termina-se para começar. É um ciclo. 



Talvez, existam coisas intermináveis. Talvez, existam coisas que sejam findáveis. Talvez, olhar o mar seja uma coisa impossível de interromper. Existem prazeres intermináveis, pessoas inesquecíveis, momentos infinitos. Preciso terminar a lição de casa, a lista do supermercado, esse texto. Também preciso entender porque terminar tem sido tão importante. Terminar uma fase, uma rotina, interromper os antigos caminhos, as idéias erradas. Terminar é mais que parar, que clicar no stop. 



Terminar é ter a certeza que o término leva à um novo começo. É acreditar no poder das suas próprias escolhas. Terminar não é fácil, mas não é impossível. Terminar é preciso. Terminar é recomeçar. Terminar é colocar um ponto final que em seguida transforma-se numa vírgula. Terminar é se permitir.”

domingo, 1 de setembro de 2013

Ela.

Escrito em 22/09/12




E ela ia descendo a rua mordendo os lábios, uma velha mania. Não ouvia as buzinas dos carros e praticamente não sentia o movimento ao seu redor. Frequentemente tropeçava, por estar assim tão distraída e alheia ao mundo.

Enquanto andava, pensava em tantas coisas e ao mesmo tempo em nada. Diante das filosofias baratas que lia na internet e do horóscopo semanal ela ia tentando prever o futuro e os acontecimentos que não tinha controle, que aliás, nunca teve.

Segurando a bolsa pesada com os livros, fechando mais o casaco para se proteger do vento e lascando ainda mais o esmalte rosa por impaciência e monotonia, ela tentava se entender, assim, sem mais nem menos. Sem motivo.

A cada farol que tinha que parar para poder atravessar, um novo pensamento e a cada esquina uma dúvida que vinha de lugares cada vez mais profundos de sua mente. Ela era complicada. Sempre foi. Nunca pediu para ser compreendida e nunca na verdade, se importou com isso. Mais um farol. Mais uma esquina. Mais uma dúvida. Mais uma das muitas faces dela mesmo que não conhecia. E era assim, todos os dias, até que algo novo e mais complexo a invadisse e a arrastasse para um íntimo mais profundo, dela mesma.