domingo, 23 de abril de 2017

Fuga



Você disse que foge porque não tem pra onde ir.

Permanece dias calado e esquece que o silêncio também é uma forma de resposta. Que o não dizer, diz tanto, diz muito. Diz tudo.

Diz que foge porque não tem espaço em mim.

Mas, esquece que eu já quis ser abrigo e já ofereci morada nos dias de chuva. Tentei mostrar que também era capaz de receber seus medos, mas você seguiu fechando meus olhos pro que não era bonito dentro de você.

Me diz que não sabe o lugar que ocupa na minha vida, mas não deixa eu te mostrar que sempre há um pouco de amor restante. Que no meu coração, pedaços de nós ainda ecoam. Alto e em bom som. Você optou por desligar nosso som. Por desistir das minhas melodias mais sinceras.

E talvez, eu seja injusta. Seja errada. Seja menos que você. Talvez, na realidade, eu tenha tropeçado em nossos nós tão desgastados pelo tempo, pelas meias verdades, e errado nas doses de sinceridade.

Só que dessa vez, meus receios tinham se transformado em possíveis respostas. Lá no fim dos trilhos, havia luz. E foi você que abriu as cortinas. Por que então as fechou tão repentinamente? Hoje, em mim há escuridão. Na sua fuga, quem sabe você consiga enxergar mais do que eu sou capaz. 

E o "depois", que sempre foi tão menos que nós, sempre tão refém dos meus questionamentos e das suas certezas, agora não encontram um lugar, nem em mim e muito menos em você. E assim, tua fuga nada mais é que tua resposta, que uma escolha que você tomou sozinho. 

E eu fico imaginando em que momento essa escolha em silêncio foi tomada. Só que no fim, não faz diferença. Ela é tudo que você conseguiu me dizer, mesmo não completando uma sequer frase. A fuga, então, é tudo que ficou.

Eu também parti.