terça-feira, 7 de junho de 2016

Somente o necessário



Recentemente li um texto numa coluna do Estadão, desses que acabam se tornando virais e todo mundo compartilha no Facebook. Ele dizia sobre como a nossa, quer dizer, a minha geração é de certa forma, descartável. Como para nós, tudo se torna efêmero com muita facilidade, nossos relacionamentos não duram, nossos empregos não são estáveis, nossos interesses mudam a cada cinco segundos. Em parte, tudo isso é culpa da tecnologia em que estamos imersos praticamente 24 horas por dia, mas outra grande parte também é nossa, por nos sentirmos “livres” para arriscar mais. Talvez a gente ainda não tenha aprendido que o mercado não está preparado para nossa ânsia de viajara cada seis meses ou para nossa vontade de curtir a vida antes da aposentadoria.

Recém-formada, com alguns estágios, um intercâmbio, inglês fluente e um diploma na mão, arranjar um emprego compatível não deveria ser uma tarefa impossível. Era assim que eu e mais tantos outros jovens nos seus vinte e poucos anos pensavam. Erro nosso. Final de 2015 e uma das maiores crises da história brasileira.

Vale lembrar que a crise não é só econômica, e sim também política. Como exemplo, em meados de janeiro de 2015, havia uma expectativa de que houvesse uma reforma fiscal que poderia fazer o governo atingir um equilíbrio orçamentário, criando um panorama mais otimista a médio prazo. O então ministro da fazenda Joaquim Levy, propôs um plano de ajuste fiscal, porém o momento político já se encontrava desfavorável, com boa parte da base de apoio da presidente reticente, descolando-se das posições do governo.

Não podemos nos esquecer da Operação Lava Jato, que está investigando o maior escândalo envolvendo a Petrobrás, as grandes empreiteiras nacionais, além de diversos políticos. Esse e tantos outros absurdos, como as pedaladas fiscais, fizeram o Brasil sofrer uma paralisia econômica em larga escala.

Como se não bastasse, a economia recessiva atingiu a depressão com o rebaixamento da nota de crédito do Brasil por duas agências internacionais de classificação de risco. Associando-se a tudo isso, o mercado reagiu negativamente às tentativas de recuperação e com isso, nós acompanhamos incrédulos à valorização do dólar frente ao real, sendo uma das mais altas dos últimos quinze anos.

Com a taxa de câmbio nas alturas, a viagem internacional de fim de ano foi reduzida a curtir uma praia no litoral paulista mesmo. Já a inflação fez com que nosso cinema e jantar se reduzisse para uma noite de netflix e pipoca de micro-ondas. E na hora de declarar o imposto de renda? Para qual país que dá vontade de fugir?

Mas, fato é, a taxa de desemprego no país é a pior desde 2009, quando a crise no mercado hipotecário americano afetou toda a economia mundial.  Só a área de informação, comunicação e atividades imobiliárias e administrativas cortou cerca de 900 mil pessoas até o fim do ano passado.

E mesmo quando existe a oferta de emprego, será que já paramos para analisá-las com calma? Na área de comunicação, por exemplo, um cargo de assistente de mídia exige mais qualificações que toda minha lista de supermercado mensal. Tem que saber analytics, técnicas de SEO, heavy user de mídias digitais, todo pacote office, photoshop, indesign, edição de vídeo, illustrator... Mas, calma! Como que arranjamos tempo para nos especializarmos em tudo isso, se trabalhamos além do horário comercial e ainda decidimos fazer uma pós-graduação à noite? Em teoria nos tornamos experts em tudo, quando na verdade sabemos apenas um pouco de cada coisa. Quem nós queremos enganar?

Além de tudo isso, se nos compararmos com a geração dos nossos pais ou avós, fica nítido o quanto nosso poder de compra mudou. Aos vinte e poucos, quantos de nós já temos um imóvel próprio, ou temos autonomia financeira suficiente para sair de casa?

A economia na era digital com certeza tem remodelado nossa forma de ver e viver o mundo. É através da tela dos nossos celulares que acessamos nossa conta bancária, fazemos transações, nos relacionamos e de certa forma, convivemos e nos fazemos presentes mesmo que longe.

Aprendi na minha aula de economia da pós-graduação que a renúncia de algo é o que dá valor aquilo. Frase de impacto que me fez refletir sobre milhares de outras coisas. Mas, o que eu tiro essencialmente dela é: quanto estamos dispostos a renunciar por aquilo que julgamos ser necessário? E o que é por fim, necessário?

Calma, respira. Se aos vinte e três você ainda não encontrou, pode apostar que tem gente com quarenta que ainda busca esse insaciável, “necessário”.