domingo, 28 de setembro de 2014

ainda é


Leia ao som de Photograph - Ed Sheeran


pela tua sombra consigo ver tanto,
do que ficou,
do que deixou de ser,
mas,
que permanece.

abre buracos maiores que o silêncio,
latente,
sem cor,
vazio.

é sobre nós

sempre foi,
seu carro,
chuva,
palavras jogadas no ar.

a falta de ar e todos os restos de soluços,
meu monólogo,
seus instantes,
nossos infinitos.

e todas aquelas pontes que um dia a gente sonhou,
um dia construir,
desmoronaram,
e se perderam nos calendários,
no tempo.

momentos,
espaços
gritos
portas fechadas
olhares.

nada mais do jeito que era
bonito,
leve,
sem medo.

talvez
a gente ainda seja um pouco daquela foto borrada,
e se reconstrua aos pedaços,
refazendo,
transcrevendo,
transcendendo quem a gente é,
verdadeiramente
juntos.

esses desencontros,
encontros,
de passagem,
pra agora
ou
pra mais tarde,

tudo
nada,
esse jogo de tudo ou nada.
8,
80.

isso aqui,
e aquilo ali
eu aqui,
tudo

tudo ainda é sobre nós.





terça-feira, 26 de agosto de 2014

Busca







De tempos em tempos a gente se perde. Eu me perco. Me embaralho entre as palavras cruzadas da rotina, me seduzo por vitrines mentirosas, deixo-me levar por verdades escritas sob guardanapos em um bar qualquer.

Confundo-me ao falar sobre o futuro ou sobre aquelas vontades escondidas debaixo do tapete. Será que existe hora certa pra destrancar tudo que vem preso dentro de alguém eu já nem reconheço mais? Quando foi que a pressa passou por mim, redesenhou meus mapas, quis consertar as linhas tortas dos meus rascunhos e a incompletude dos meus monólogos das três da manhã?

Já me disseram que é de degrau em degrau que chegamos na porta dos nossos sonhos. Que não adianta cortar caminho, subir pelo elevador, sucumbir aos atalhos. Eles podem parecer a solução imediata, mas não são capazes de desvendar o que está por trás de cada passo, de cada esforço interno, de cada suspiro que a gente dá quando perde o fôlego.

E as decisões mais difíceis a serem tomadas talvez nem sejam as que nos tiram o sono. Talvez, sejam aquelas mais perto de nós. As que estão ali, somente a espera de um sim ou de um não. Elas enxergam o nosso receio de tomar uma atitude e por isso, constantemente aparecem para nos lembrar que "ei, eu to aqui", o que você vai fazer em relação à mim? E nessas horas, não há remédio que te ajude, simpatia que escolha por você, conselho ou horóscopo que indique o caminho. É você com você mesmo.

Sou eu comigo mesma. E na realidade  ninguém consegue escolher quando está pela metade. Ninguém pela metade consegue agir de forma completa. Inteira. Não se constrói pontes com cacos. Nenhuma verdade é feita baseada em um conjunto de mentiras. E nada é capaz de apagar o que já foi feito.

Mas, no meio de tudo isso, atrás de cada pontada de medo, existe a fé. E é ela que faz a gente continuar. Que me faz acreditar que minhas escolhas são apenas um reflexo do que eu sou. Do que eu continuo sendo e evoluindo todos os dias. 

Quem sabe a gente precise viajar. Cruzar o oceano para descobrir que o que a gente procura não consta nos mapas, no google ou nas estrelas. Que o que a gente busca está mais próximo de nós do que imaginamos. Quem sabe, a gente só precise caminhar alguns passos para traçar uma rota infinita que leva ao nosso coração.

E no fundo, o que a gente procura não é nada muito além do óbvio e distante do espelho. A busca, é por nós mesmos. Não importa quanto tempo leve ou a que intensidade essa busca prossiga. O importante é que ela exista. Sempre.






segunda-feira, 7 de julho de 2014

Ama






"A gente ama fora dos ponteiros do relógio. No calor do descompasso, na memória ofuscada de um fim de domingo. Ama quando a rima esquece o poema ou quando eu te desconstruo numa fotografia borrada. Ama quando o tempo passa devagar, quando seu sorriso vira música. Ama numa folha de guardanapo, num rabisco torto, num olhar certeiro.

A gente ama quando o choro vira soluço. Quando o abraço afasta a dor, quando a dor vira lembrança distante. A gente ama de perto, por dentro do cobertor numa cama de solteiro. Ama quando o vinho aquece a alma, e a alma é você. Sou eu. Nós.

Ama quando o beijo enche o peito, e o peito grita amor. Ama quando a sombra vem em dobro, quando as mãos se encaixam . Quando os olhos se encontram. Ama num esbarrão, num suspiro, no silêncio. Ama no que não é dito. A gente ama no sufoco da saudade.

Ama quando não existem motivos. Ama sem as contas matemáticas. Ama na ilusão de um cálculo errado. A gente ama de dentro pra fora. Ama na ressaca. Ama nas desculpas e nas flores. Ama nos cartões mal escritos, nos enganos. A gente ama nos tropeços.

Ama nos caminhos mais errados. A gente ama no tiro que dói. Ama nas feridas abertas. Ama quem cura as cicatrizes, ama os remendos. A gente também ama os retalhos. Ama os restos.

Ama no vazio. A gente ama no escuro. Ama no que não enxerga. Ama nos gestos. Ama na falta de palavras. Ama a intensidade, ama o apego. A gente ama no carinho. Ama na indiferença.

Ama quando precisa. A gente ama pra completar. Ama pra preencher."

terça-feira, 17 de junho de 2014

00:00





"Te escrevi. Reescrevi. Rabisquei tantas linhas tortas. 
Descrevi nossos vazios, apaguei com corretivo os abismos de nós.   
Me esforcei narrando você.  Só você. 
Te eternizei nesses rascunhos de algo que nunca existiu.
As palavras transformaram-se em pesos que eu carrego comigo.
Meus poemas agora acompanham o ritmo apressado dos meus passos. 
Eles não caminham por você, mas sempre acabam te encontrando.
Ou vice versa.
Talvez, a gente só funcione depois da meia noite.
Do avesso.
Ao contrário.
De pertinho.
Com você tentando entender meus olhares. 
Por dentro dos meus déjà vus.
Atrás da fumaça do seu cigarro.
Quem sabe das cinzas tudo isso seja capaz de renascer...
Na superfície do nosso entrelaçar de mãos ou no infinito que existe no que eu não digo...
É maior que qualquer espaço. Ocupa os milímetros que nos aproximam.
Afasta as imensidões do seu silêncio.
E cala todo o ressoar do que você tem a dizer.
Não importa.
Talvez, a gente só funcione depois da meia noite.
E eu...
Eu te quero bem antes disso."



quinta-feira, 1 de maio de 2014

Restos.



"Não restam palavras.
Sequer sobraram poemas.
Evito perder meus olhares no seus.
Percorro nossos caminhos ao contrário.
Mudo minha rota pra me distanciar da sua escuridão.
Apago a luz, troco de música, cruzo os braços.
Faço mil muralhas com a força que resgatei depois que você se foi.
Deixo para você essas minhas demonstrações de indiferença, inéditas.
Encontro desvios, esbarrões e tropeços longe do seu abraço.
Fujo do cheiro do seu perfume. 
Surpreendo-me com seus pedidos fora de hora. 
Você não entende meus nãos.
Eu nunca entendi você. 
E esse despedida...
Premeditada. Esperada. Demorada.
Será que é assim, você me encarando da porta?
Meu cabelo encostando em você nesse milésimo de segundo.
Seus meios beijos de tchau sem jeito.
Sabe, não restam nem palavras.
Sequer sobraram meus poemas.
Não me pede mais do que deve.
Repete todas as frases ditas daquele dia de chuva.
E faz chover para levar tudo embora.
Não restou nada.
E o pouco, não me basta.
Não é suficiente."



segunda-feira, 7 de abril de 2014

Nó.



"A verdade é que não necessariamente as coisas estão ao nosso alcance quando desejamos. Os erros que insistem em marcar presença mesmo por detrás dos sorrisos mais sinceros fazem tanta coisa se perder. Fazem com que a nossa até então plenitude, transforme-se num emaranhado de nós que nem nos lembramos de ter feito.

E é tentando desfazer os nós que criamos que nos deparamos com as decepções. Entre um fio mais solto que outro, aparece um diálogo que não faz sentido, uma briga por motivos impulsivos e histórias que parecem não ter fim. E logo ali, mais acima de todos os fios está a nossa consciência.

É ela que deve, ou pelo menos deveria, nos guiar nas nossas ações, desde os atos mais simples até ao "eu te amo" mais difícil de ser dito. Do "bom dia" às despedidas mais doloridas. É a consciência do nosso corpo, da nossa mente e das nossas atitudes a responsável pelas consequências no nosso futuro. O futuro, aliás, assusta. Pra você não? Até onde meus esforços valerão á pena, ou até que ponto tudo que eu fiz e deixei de fazer será recompensado? E precisa de recompensa?

A consciência, às vezes, se faz distante, quase que inatingível. Inclusive, dizem por aí que a maior distância do mundo é entre a cabeça e o coração. No meio do caminho, entre um ato totalmente racional e um abraço, tanta coisa muda. Entre uma fala mal interpretada e um conselho que não foi ouvido, a gente já mudou mil destinos e nem sabe. Passamos por cima de coisas que a nossa consciência insistentemente tentou nos avisar, mas que nosso orgulho nunca deixou ser completado; que nosso medo do "depois" foi maior, nos cegando do certo. Falando nisso, você já fez o certo, hoje? O que de fato, é o certo? A voz da nossa consciência, talvez.

Os erros que cometemos, as verdades que deixamos de dizer, as constatações dolorosas que precisamos ouvir, os diálogos que deixamos incompletos, os passos que traçamos sem consultar um mapa, absolutamente tudo vai abrindo buracos nos nossos caminhos, afetando cada centímetro do nosso corpo, alma e consciência.

O desafio não é saber lidar com as perdas, quando ficar calado em uma briga, quando tomar partido, quando dar um abraço amigo ou desvencilhar-se de um beijo roubado. O (nosso) meu grande desafio é desfazer cada pequeno nó sem deixar rastros, resquícios, restos de problemas. Sem afetar quem deu o laço mais forte, quem se soltou dos nós mais frouxos. É uma missão quase que impossível se encontrar em meio à bagunça. Se encontrar sozinho.

Afinal, nenhum nó dói tanto quanto o da nossa garganta."

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

(In) Fiel

"O amor é isso.
Não prende, não aperta, não sufoca.
Porque, quando vira nó, já deixou de ser laço."
Mário Quintana







De todas as minhas verdades, você sempre foi a mais fiel. A que correspondia melhor aos sentimentos perdidos dentro de mim. A verdade mais sincera e sem medidas que meu peito pôde suportar. 

De todos os meus contos, você sempre foi aquele que não tinha final. Que eu não tinha coragem de digitar o ponto final e encerrar. Você foi a personagem que ganhou capítulos extras, mesmo depois da tinta da caneta acabar. Quando se tratava de dissertar sobre ti, apenas fechar os olhos era suficiente. Te ver era supérfluo perto da minha imaginação quase que infantil e fantasiada.

Desenhei mais de mil máscaras pra você. Escondi seus defeitos em adjetivos bonitos e frases de efeito. Todo meu amor foi debruçado entre linhas que não parecem nem um pouco corretas agora.

Por muito tempo você roubou a beleza das coisas ao meu redor. Tirou meu foco, minha visão e meus sentidos de tudo que era leve. Ao contrário de você, a vida tem lá suas doçuras sem disfarce.

O medo de ir adiante por querer caminhar no escuro com você, passou. Talvez, hoje, eu finalmente desate nossos nós tão bem amarrados em lugares distantes. Deixei de lado todas as (falsas) certezas de uma verdade que não passava de ilusão.

Por querer te consertar, me quebrei. Desfiz-me em mil pedaços para ter como recompensa os cacos de um coração de vidro. Em suas respostas vazias, no nada e no pouco que você era capaz de me oferecer, eu me rendi. 

Me despeço, me entrego, me encontro.

De todas as minhas verdades, você sempre foi a mais (in)fiel.


sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Rascunho de nós

Leia ao som de "Night Time" - The XX
"You mean that much to me
And it's hard to show
Gets hectic inside of me
When you go
Can I confess these things
To you?"





"Enquanto a caminhada ainda é suficiente para afastar todas as memórias latejantes de nós dois, eu continuo a respirar. Tropeço nos retalhos de uma história que eu insisto em remendar, mas, que aos olhos de quem vive sem chegadas e partidas, não vale à pena.

Clica no pause. Você tá sentado? O que eu estou prestes a te mostrar não é fácil de se absorver. Me diz que você tá calmo, por favor. Promete não levantar e sair no meio dessa tentativa torta de te mostrar umas verdades escondidas pelo tempo?

Ali, bem no canto desse vídeo. Tá vendo? É você. Eu sei, seu cabelo era diferente e hoje eu não uso mais all star. Mas, enquanto você se oferece pra amarrar meu cadarço solto, eu mal posso prever que tardes depois essa será uma das minhas lembranças mais doces.

Entre os sorrisos dessa cena distante e o próxima sequência de abraços apaixonados, tenta lembrar dos porquês. Talvez, nessa época eles nem existissem. Eu e você eramos um rascunho escrito sem querer no meio das correrias da vida.

Agora vem uma das minhas partes favoritas. Não sei se pra você isso significou alguma coisa, se por dentro de você a respiração ficou mais forte e se seus olhos cintilaram ao encontrar meu reflexo. É o seu abraço. São seus braços que afastam todos os problemas do universo. Essa é a primeira vez que você fez questão de mostrar pro mundo a nossa felicidade. Nós. Lembra como meu sorriso denunciava a imensidão de ter você perto de mim?

Eu me perdi em mil abraços errados só pra perceber que o melhor lugar do mundo de fato não é um lugar. É você. 

Stop. As imagens tão fortes pra você ou seu coração aguenta ver os nossos pedaços tão perfeitamente encaixados serem despedaçados? Me diz se quiser que eu pare. É como um vidro estilhaçando em um milhão de cacos e abre feridas que nem os melhores remédios foram capazes de curar. Dói ver os meus caminhos se perderem dos seus.

É frustrante não encontrar o começo do fim. Me arrisco nas discussões às terças ou na sua tentativa de retomar tudo do último toque. Duvido que tenha sido minha capacidade de me deixar levar pelos sentimentos que não paravam de chegar. Quantas vezes me arrisquei dizendo que o meu mundo era seu? Esqueci que a lógica traz consigo a bagunça que você causou. Acho que não aprendo que foi tudo uma questão de escolha. Aliás, da falta dela. Você não foi capaz de me oferecer condicionalidade ou proposta, simplesmente saiu. Bateu a porta e foi.

Só entende que essa nossa nova versão não corresponde ao meu amor. Suas mesmas justificativas não combinam com a forma que você insiste em me olhar.

E o que bate dentro de mim continua escapando por meio das lágrimas que eu evito te mostrar. Minha discrição tem um limite e ele está cada vez mais próximo de um fim. Mas, sinceramente, já não faz diferença. Agora você sabe. Você sempre soube."