quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Certas coisas não mudam.














Respiro fundo e rascunho essa primeira frase. Não tenho pressa, dessa vez quem controla o tempo sou eu. Dessa vez, não preciso me afogar nas minhas próprias palavras e nem tropeçar entre os parágrafos. Dessa, e pela primeira vez, está tudo sob controle.

Existe uma cronologia muito bem organizada dentro da minha cabeça e nem música é necessária pra acompanhar o ritmo da minha escrita.

Parece que tudo mudou, quando no fundo, certas coisas permanecem exatamente iguais. Talvez, eu ainda tenha os mesmos medos e ainda reste saliva pra te dizer uns fins de frases que nunca consegui completar. Não sei, é como se fosse ler uma carta imaginária. Como se os fatos viessem narrados prontos pra mim. É como pedir pizza. Sabe, não ter que preparar nada? 


Fazia tempo que o discurso não vinha fácil. Conversar com você nunca foi tão natural, tão libertador, tão sem escrúpulos. E você sabe bem que é culpa sua. Que toda essa intimidade, foi resultado de quase dois calendários completos. 



* * *

O silêncio foi quebrado com um sussurro tímido, quase inaudível. Mas, meu bem, acredita que eu reconheço sua voz bem lá de longe… Dessa vez, não foi como vidro estilhaçando no chão. Foi como as folhas caindo de uma árvore seca no outono. Foi como aquele comecinho de chuva no inverno.

Foi bom. Se tivesse gosto, eu imagino que seria doce. Você, bem por dentro de todas as suas armaduras, sempre teve esse lado flor. Esse lado que poucos enxergam. Não entenda errado, eu amo flores.

O cheiro, meu, seu, do ambiente…que continuou igual, e mesmo resfriada (pois é, não posso mais usar seus moletons), consegui sentir. Como eu disse, certas coisas não mudam. O que me surpreendeu talvez nem tenha sido o diálogo, mas a atitude. A iniciativa. De onde veio tudo isso? Será que você finalmente achou a chave do baú que escondia sua sinceridade, no meio da sua bagunça?

Falando em bagunça, percebeu como eu ando confusa ultimamente? E seu olhar? Continuo me perdendo nele. Queria ter a coragem de dizer como ele é especial. Ou, como ele me faz sentir. 

O azul da sua blusa tava combinando com a cor do céu, de quando você se despedia de mim, bem cedinho. Mas, pra que me prender em lembranças, se as memórias se perdem de qualquer forma?

O tempo passou e os vinte minutinhos poderiam ter se prolongado por horas. Não sei se você sentiu o que eu senti. Se te contar mil verdades fez algum efeito ai dentro. Se na hora que você olhou pro lado você quis pegar na minha mão. Se quando eu sibilei os motivos, as faltas e suas loucuras, você entendeu. 

Não há pressa. Já esperei tanto. Devo ter carteirinha fidelidade no seu contato do celular, de tanto que já pensei em ligar. Já passei na porta da sua casa e me lembrei. Já quis bater na sua porta, mesmo sabendo que você estaria ausente.

Por mais que eu ainda não consiga escalar os muros que você construiu, você sabe que é incapaz de me barrar. Que não importa qual seja o obstáculo da vez, pelo menos te entender, eu entendo.

E mesmo que você conte pra mim tudo que você sabe que eu não quero ouvir, você sabe que eu não vou fugir. Que mesmo que teu carro esteja destrancado, eu me recuso a sair. 


* * *

Como eu te disse, o tempo não corre mais. Não me preocupo com o passar dos minutos em direção à um futuro incerto. Nós sempre fomos assim, e certas coisas, não mudam.

Como eu queria que minha casa fosse mais longe, pra ter tempo de te fazer rir com mais piadas bobas e ouvir suas explicações sobre o universo.

Falando nele, o universo… ele continua girando, e não sei se ao nosso favor. Não sei se um dia ele vai fazer você me encontrar e eu te deixar entrar… Só sei, que certas coisas não mudam, nunca vão mudar.”

Nenhum comentário: