segunda-feira, 7 de julho de 2014

Ama






"A gente ama fora dos ponteiros do relógio. No calor do descompasso, na memória ofuscada de um fim de domingo. Ama quando a rima esquece o poema ou quando eu te desconstruo numa fotografia borrada. Ama quando o tempo passa devagar, quando seu sorriso vira música. Ama numa folha de guardanapo, num rabisco torto, num olhar certeiro.

A gente ama quando o choro vira soluço. Quando o abraço afasta a dor, quando a dor vira lembrança distante. A gente ama de perto, por dentro do cobertor numa cama de solteiro. Ama quando o vinho aquece a alma, e a alma é você. Sou eu. Nós.

Ama quando o beijo enche o peito, e o peito grita amor. Ama quando a sombra vem em dobro, quando as mãos se encaixam . Quando os olhos se encontram. Ama num esbarrão, num suspiro, no silêncio. Ama no que não é dito. A gente ama no sufoco da saudade.

Ama quando não existem motivos. Ama sem as contas matemáticas. Ama na ilusão de um cálculo errado. A gente ama de dentro pra fora. Ama na ressaca. Ama nas desculpas e nas flores. Ama nos cartões mal escritos, nos enganos. A gente ama nos tropeços.

Ama nos caminhos mais errados. A gente ama no tiro que dói. Ama nas feridas abertas. Ama quem cura as cicatrizes, ama os remendos. A gente também ama os retalhos. Ama os restos.

Ama no vazio. A gente ama no escuro. Ama no que não enxerga. Ama nos gestos. Ama na falta de palavras. Ama a intensidade, ama o apego. A gente ama no carinho. Ama na indiferença.

Ama quando precisa. A gente ama pra completar. Ama pra preencher."