domingo, 4 de junho de 2017

Reinventar






A gente se reinventa toda vez que lê as entrelinhas do acaso...

Toda vez que encontramos alguém do passado, que revisitamos memórias, que desvendamos mistérios dentro de nós mesmos.
 
Nos recriamos quando percebemos que não buscamos mais restos em outro alguém, ou quando olhamos para dentro e só isso basta. Quando reconhecemos que cada situação vivida intensamente é um pontinho dentro de um emaranhado de dúvidas que desvendamos todos os dias.

Transformamos nossos passos, escolhas e palavras, cada instante que conseguimos seguir de olhos abertos para o futuro. Toda vez que nosso antes deixa de fazer sentido e em cada minuto que perdemos o medo de altura. Que damos lugar aos sonhos que eram distantes, aquelas vontades que de tão repentinas, nos atravessam e nos movem.

Optamos por ser uma nova versão de nós mesmos quando decidimos que o que tira nosso ar é melhor do que o caminho mais seguro. Enfrentamos nossos pedaços tortos e encaramos o espelho que muitas vezes está em cacos. Afinal, deixar de ser também é uma forma nova de existir.

E assim, despedaçamos cada milímetro de dores antigas, compomos novas canções pra novas paisagens, escrevemos poemas que agora revelam o não dizer de tudo que sentimos no hoje.

E a grandeza de poder ser mais todos os dias é o que movimenta uma alma buscando extravasar aquilo que nem sempre o corpo pede. É lá no fundo do coração, entre a angústia e o descobrimento, entre o clichê e o improvável, que mora um reflexo daquilo que realmente o nosso orgulho nos impede de mostrar. Que mora o verdadeiro nós.

Refletir sobre a intensidade do viver nada mais é do que o encontro de nossos desejos com nossa profundidade. É o peso e a leveza de ser tantas pessoas dentro de apenas uma. 

É a vontade de mergulhar num mar de nós mesmos, e assim como as ondas, deixar um pouco pra trás toda vez que tocamos a superfície.





domingo, 23 de abril de 2017

Fuga



Você disse que foge porque não tem pra onde ir.

Permanece dias calado e esquece que o silêncio também é uma forma de resposta. Que o não dizer, diz tanto, diz muito. Diz tudo.

Diz que foge porque não tem espaço em mim.

Mas, esquece que eu já quis ser abrigo e já ofereci morada nos dias de chuva. Tentei mostrar que também era capaz de receber seus medos, mas você seguiu fechando meus olhos pro que não era bonito dentro de você.

Me diz que não sabe o lugar que ocupa na minha vida, mas não deixa eu te mostrar que sempre há um pouco de amor restante. Que no meu coração, pedaços de nós ainda ecoam. Alto e em bom som. Você optou por desligar nosso som. Por desistir das minhas melodias mais sinceras.

E talvez, eu seja injusta. Seja errada. Seja menos que você. Talvez, na realidade, eu tenha tropeçado em nossos nós tão desgastados pelo tempo, pelas meias verdades, e errado nas doses de sinceridade.

Só que dessa vez, meus receios tinham se transformado em possíveis respostas. Lá no fim dos trilhos, havia luz. E foi você que abriu as cortinas. Por que então as fechou tão repentinamente? Hoje, em mim há escuridão. Na sua fuga, quem sabe você consiga enxergar mais do que eu sou capaz. 

E o "depois", que sempre foi tão menos que nós, sempre tão refém dos meus questionamentos e das suas certezas, agora não encontram um lugar, nem em mim e muito menos em você. E assim, tua fuga nada mais é que tua resposta, que uma escolha que você tomou sozinho. 

E eu fico imaginando em que momento essa escolha em silêncio foi tomada. Só que no fim, não faz diferença. Ela é tudo que você conseguiu me dizer, mesmo não completando uma sequer frase. A fuga, então, é tudo que ficou.

Eu também parti.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Gravidade



Gravidade é o que mantém nossos pés fixos no chão. Aquilo que faz nosso corpo percorrer caminhos nem sempre claros, sabendo que sempre há a chance voltar. 

A gravidade cria essas raízes na gente pra que possamos nos permitir ir à loucura, às vezes, quando nada aqui parece suficiente. Pra que a gente saía do nosso rotineiro, tropece, se desmanche, mas saiba que o seguro ainda está ali, esperando nosso retorno.

É livre de julgamentos e não desiste quando partimos de última hora. Deixa a gente cometer esses deslizes, rodopios e anseios, mas sempre nos puxa de volta. A gravidade acredita na gente. Perdoa como ninguém e tem a calma como dom.

Gravidade é escrever tantas linhas sem sentido e saber que a caneta ainda estará aqui amanhã. Gravidade é poder mudar de ideia, reescrever, deixar de ser, só pra no final ser de novo. É revisitar passados, mas ter em mente novos futuros.

Também é ponto de equilíbrio. É tropeçar mas acertar o passo em seguida sem cair. É leveza. É sentir o vento no rosto e respirar fundo. Gravidade é fechar os olhos e enxergar o impossível.
 
Gravidade é sentir nossos pés no asfalto, na grama, na areia e no escuro. É permitir o desencontro, o incomum, o infinito.

É o que nos segura em quem a gente acredita e quer ser. É o que faz nosso coração bater mais forte, é o nó na garganta. É encontrar percursos que só são certos pra nós mesmos. Gravidade não é estar fora de si, é encontrar em si tudo que está fora e transformar.

Gravidade é estar, nunca deixando de ser todas essas nossas versões. É encontrar em si, não o peso do mundo, mas o que faz nosso mundo continuar aqui.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Dia a dia





Quando pensei que tinha todas as repostas, tropecei. Tudo embaçou de repente, sem aviso prévio ou qualquer controle. Me vi ali, naquele emaranhado de dúvidas agora inéditas, controversas, desconexas.

Acreditava já ter ultrapassado tantos limites que me olhar no espelho deveria ser uma tarefa natural. Como é fácil enganar-se sem perceber. Se a gente soubesse a profundidade que temos dentro de nós, a grandeza dos nossos pensamentos e até onde nossa mente é capaz de nos levar, não pularíamos tão rápido dentro de conclusões que parecem tão certeiras.

De certo, na verdade, há pouco. Talvez nada. Prefiro acreditar que há muito, tudo, sempre. Escolho reconhecer que não sei, mas que não desisti de procurar. Acabo buscando refúgio em lugares que pensei já ter anunciado despedida, mas que ainda não foram de fato embora. 

Quanto mais permeio o não entendimento de tudo que pulsa dentro de mim, mais descubro que o caminho é infinitamente longo. Exercício diário, este, de desfazer os nós, reescrever verdades, apagar momentos, desprender-se de ilusões. 

E nesse escuro que parece tomar conta do corpo e fazer o coração bater mais rápido é que mora a mudança que buscamos. Ela sim, permanece. Nos faz respirar, expirar, e enfim, estar. Ser.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Sob a superfície










Estar sob a superfície é nunca ter a chance de experimentar o próprio ser.

É deixar-se levar pelo simples, pelo material, por tudo aquilo que não alcança os centímetros necessários para o arrepio.

Caminhar somente no raso apenas garante a segurança de situações entediantes. Manter-se ali, nas metades de diálogos prontos e copos meio cheios, é fácil demais.

Desafiante, no entanto, é pular no desconhecido. Habitar-se na dúvida. Permanecer nos questionamentos, buscar o mais profundo.

Encontrar aquilo que realmente, verdadeiramente, mexe com o coração, exige coragem.

Delirar entre aquilo que ora acreditávamos e aquilo que ainda não sabemos com plena convicção só faz sentido quando nos permitimos.

Ter a capacidade de mergulhar mais fundo em tudo aquilo que tem potencial para abalar nossas estruturas é o que tem movido esses pés por aí.

E são nesses tropeços que o corpo percebe que estar na superfície nunca é e nunca será suficiente.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Sobre ser






                                                                                                 Ph: Marco Manela


Andei pensando e descobri nesses últimos tempos, entre semáforos e esquinas que permanecem iguais, que há pedaços em mim irrecuperáveis.

Pedaços que se transformaram. Que permutaram, caminharam e que agora, as 2h20 da manhã de um dia qualquer, deixaram de ser quem eram.

Assusta ver partes nossas serem deixadas pra trás, sem mais nem menos. Aliás, mais. Muito mais. Será que é tão imperceptível aos olhos dos outros o quanto realmente, é mais?

Mais verdadeiro. Mais sincero. Mais profundo.

Constatar que o antes já não basta, que o antigo não satisfaz e que o passado não é suficiente me dá falta de ar.

Transitar entre esses caminhos de busca provoca tontura.

Acompanhar mesmo que aos poucos meus passos em direção a mim mesma, tira o sono. Mas, acho que no fundo, esse misto de sensações que transitam aqui dentro é natural. Afinal, não é sempre que conseguimos estar diante de nós mesmos sem tropeçar.

Então, cabe a nós conhecer, reconhecer, ser. E finalmente, agradecer pela grandiosidade que é poder contemplar a si mesmo.



terça-feira, 7 de junho de 2016

Somente o necessário



Recentemente li um texto numa coluna do Estadão, desses que acabam se tornando virais e todo mundo compartilha no Facebook. Ele dizia sobre como a nossa, quer dizer, a minha geração é de certa forma, descartável. Como para nós, tudo se torna efêmero com muita facilidade, nossos relacionamentos não duram, nossos empregos não são estáveis, nossos interesses mudam a cada cinco segundos. Em parte, tudo isso é culpa da tecnologia em que estamos imersos praticamente 24 horas por dia, mas outra grande parte também é nossa, por nos sentirmos “livres” para arriscar mais. Talvez a gente ainda não tenha aprendido que o mercado não está preparado para nossa ânsia de viajara cada seis meses ou para nossa vontade de curtir a vida antes da aposentadoria.

Recém-formada, com alguns estágios, um intercâmbio, inglês fluente e um diploma na mão, arranjar um emprego compatível não deveria ser uma tarefa impossível. Era assim que eu e mais tantos outros jovens nos seus vinte e poucos anos pensavam. Erro nosso. Final de 2015 e uma das maiores crises da história brasileira.

Vale lembrar que a crise não é só econômica, e sim também política. Como exemplo, em meados de janeiro de 2015, havia uma expectativa de que houvesse uma reforma fiscal que poderia fazer o governo atingir um equilíbrio orçamentário, criando um panorama mais otimista a médio prazo. O então ministro da fazenda Joaquim Levy, propôs um plano de ajuste fiscal, porém o momento político já se encontrava desfavorável, com boa parte da base de apoio da presidente reticente, descolando-se das posições do governo.

Não podemos nos esquecer da Operação Lava Jato, que está investigando o maior escândalo envolvendo a Petrobrás, as grandes empreiteiras nacionais, além de diversos políticos. Esse e tantos outros absurdos, como as pedaladas fiscais, fizeram o Brasil sofrer uma paralisia econômica em larga escala.

Como se não bastasse, a economia recessiva atingiu a depressão com o rebaixamento da nota de crédito do Brasil por duas agências internacionais de classificação de risco. Associando-se a tudo isso, o mercado reagiu negativamente às tentativas de recuperação e com isso, nós acompanhamos incrédulos à valorização do dólar frente ao real, sendo uma das mais altas dos últimos quinze anos.

Com a taxa de câmbio nas alturas, a viagem internacional de fim de ano foi reduzida a curtir uma praia no litoral paulista mesmo. Já a inflação fez com que nosso cinema e jantar se reduzisse para uma noite de netflix e pipoca de micro-ondas. E na hora de declarar o imposto de renda? Para qual país que dá vontade de fugir?

Mas, fato é, a taxa de desemprego no país é a pior desde 2009, quando a crise no mercado hipotecário americano afetou toda a economia mundial.  Só a área de informação, comunicação e atividades imobiliárias e administrativas cortou cerca de 900 mil pessoas até o fim do ano passado.

E mesmo quando existe a oferta de emprego, será que já paramos para analisá-las com calma? Na área de comunicação, por exemplo, um cargo de assistente de mídia exige mais qualificações que toda minha lista de supermercado mensal. Tem que saber analytics, técnicas de SEO, heavy user de mídias digitais, todo pacote office, photoshop, indesign, edição de vídeo, illustrator... Mas, calma! Como que arranjamos tempo para nos especializarmos em tudo isso, se trabalhamos além do horário comercial e ainda decidimos fazer uma pós-graduação à noite? Em teoria nos tornamos experts em tudo, quando na verdade sabemos apenas um pouco de cada coisa. Quem nós queremos enganar?

Além de tudo isso, se nos compararmos com a geração dos nossos pais ou avós, fica nítido o quanto nosso poder de compra mudou. Aos vinte e poucos, quantos de nós já temos um imóvel próprio, ou temos autonomia financeira suficiente para sair de casa?

A economia na era digital com certeza tem remodelado nossa forma de ver e viver o mundo. É através da tela dos nossos celulares que acessamos nossa conta bancária, fazemos transações, nos relacionamos e de certa forma, convivemos e nos fazemos presentes mesmo que longe.

Aprendi na minha aula de economia da pós-graduação que a renúncia de algo é o que dá valor aquilo. Frase de impacto que me fez refletir sobre milhares de outras coisas. Mas, o que eu tiro essencialmente dela é: quanto estamos dispostos a renunciar por aquilo que julgamos ser necessário? E o que é por fim, necessário?

Calma, respira. Se aos vinte e três você ainda não encontrou, pode apostar que tem gente com quarenta que ainda busca esse insaciável, “necessário”.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Sobre ir





 
"All I know is that you're so nice
You're the nicest thing I've seen

I wish you couldn't figure me out
But you'd always wanna know what I was about"

Kate Nash - Nicest Thing


Difícil saber se dói mais nas metades que permaneceram ou em tudo que eu nunca vou te dizer. Complicado tentar desfazer todas as reticências que você deixou que eu colocasse ao longo desse tempo. Machuca fundo me calar, guardar, esquecer, deixar passar, ir.

Descobri em mim um amor que não sabia que existia assim. Resisti ao encontrar esses sentimentos nas partes mais escondidas do meu eu. Denunciei essas mágoas pro meu cérebro e ele só me retribuiu com lágrimas. Passei por cima dos muros tão altos que minha mente criou. E foi ali, naquele canto escuro do meu lado esquerdo que eu deixei de enxergar. 

Foi em cada momento que eu não posso reviver mas que eu guardo comigo, que eu fingi que meus motivos não importavam, que meus princípios não valiam e que meus medos eram superficiais. Se é tudo tão profundo então só queria poder voltar pro raso.

Pra aquele sorriso, pro dia que eu não precisei dizer nada e você entendeu. Pra quando não era necessário nenhum entendimento. 

Se eu pudesse, meu bem, talvez sim, eu ficasse. Talvez, eu escolhesse o seu sorriso dentre tantos. E aí, quem sabe eu poderia viver o que você sempre me prometeu, me mostrou pedaços e me provou que era possível. 

Se minhas verdades não fossem tão reais, se minhas vontades não prendessem meus pés no chão e se eu me permitisse, provavelmente não existiriam meias palavras, distância e silêncio.

E te deixar ir é permitir o esquecimento. É abrir a porta do novo e trancar teu amor longe. É doer ver tua felicidade em outros abraços. É acreditar estar fazendo o certo, mas permanecer em constante dúvida. 

Te ver ir, é me deixar ir também. E, sinceramente, não sei medir o que dói mais. 

Ir. Apenas ir. 

terça-feira, 8 de março de 2016

Hoje




Hoje direi que sinto tua falta. Do jeito que só você me fazia sorrir com os olhos, da calmaria e tempestade que me invadia toda vez que você aparecia.

Não te ligarei, mas estou aqui pra te dizer que dói. Que eu sinto falta de deitar no seu ombro, da voz da sua risada, do carinho no meu cabelo.

Sinto falta daquilo que ainda me desperta vontade de te ver. Sinto falta daquilo que fomos e daquilo que nunca vamos ser. Eu sinto falta de dizer o quanto te quero bem, mesmo que te queira longe. Sinto falta de ouvir de você que vai ficar tudo bem. 

Dirijo e penso em desviar do meu destino pra dizer que foi coincidência esbarrar em ti. Penso melhor e sigo a mesma rota, mas eu sinto falta. Sinto falta do caminho decorado e da certeza de te ver no fim do dia.

Eu sinto falta de planejar mil futuros quebrados pela minha racionalidade. Sinto falta da sua certeza na minha dúvida. Sinto falta do seu gosto musical, das nossas escolhas no cinema, das chances remotas de ir ver o mar com você.

Sinto tanto que não consigo discar seu número. Não faz sentido sentir tanta falta mas não sentir o mesmo que ti. Sinto falta de não fazer sentido com você. Sinto você todos os dias.

Te sinto toda vez que alguém não enxerga além do que meus olhos denunciam. Talvez, só você consiga entender o que eu não entrego de primeira. Sinto falta de todas as primeiras vezes fazendo algo novo. Sinto falta porque parece que só tem graça se é você segurando minha mão. 

Eu sinto falta de você.

E apesar de tudo, eu poderia dizer que sinto muito por isso, mas hoje, só consigo sentir sua falta. 

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Amor.





Não era amor mas poderia ter sido.

Poderia ter sido um romance estilo um filme do Woody Allen, poderia ter sido um fim de tarde na rede olhando pro mar. Poderia ter sido mais abraço. Poderia ter sido você me ensinando a dirigir na estrada. 

Poderia ter sido a final do seu time no estádio, as flores no meu aniversário e as cervejas no seu. Poderia ter sido o almoço de sábado, a risada numa quarta feira chuvosa, a preguiça no fim de domingo. Poderia ter sido aquele sundae de chocolate, aquela corrida no parque e aquela balada esquisita.

Poderia ter sido uma briga sem motivo, porque todo amor tem um pouco de desamor também. Poderia ter sido de surpresa, poderia ter sido toda aquela expectativa que eu criei. Poderia ter sido a calma e a certeza. 

Poderia ter sido eu te ensinando como quebrar seus medos, você afastando os meus. Poderia ter sido eu fazendo uma piada ruim e você rindo só pra me conquistar. Poderia ter sido um bilhete grudado no espelho do banheiro. Poderia ter sido lembrete no calendário.

Poderia ter sido a gente rachando a conta num restaurante caro, poderia ser aquela viagem de fim de semana. Poderia ter sido seu cheiro no meu travesseiro, meu perfume na sua roupa, seus braços meu lar. 

Poderia ter sido um eu te amo ou uma vontade de não querer ir embora. Poderia ter sido um poema ou um rabisco de nós dois. Poderia ter sido você me olhando em silêncio. Poderia ter sido sua mão entrelaçada na minha.

Poderia ter sido tanta coisa. Poderia ter sido muito, e tudo, se você se permitisse. 

Poderia ter sido diferente, se você deixasse.

Poderia ter sido apego, afeto, poderia ter se transformado enfim, em amor.

Parece que poderia ter sido. Amor, poderia ter sido, amor.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Se eu pudesse







Os minutos que antecediam sua presença faziam com que um flashback invadisse minha mente. Quando você chegou tudo parou. Percebeu como eu, que sempre te disse tudo com tanta facilidade, não conseguia nem esboçar um meio sorriso? Será que não podemos só olhar um pro outro por um instante? 

Você insiste e eu começo a te dizer todas aquelas coisas que eu preferia não sentir. Que eu preferia cobrir com flores, sorrisos e cartas. Todos os detalhes que eu gostaria que não tivessem se tornado tão significantes ao longo do tempo. Aliás, por que será que eu perco a noção dos minutos quando você me olha do outro lado da rua? 

Você não deve ter percebido, mas essa música combina com a gente. Combina com o que restou de um rascunho perfeito de nós. Ela se encaixa em todas as vezes que o silêncio bastou, que os suspiros preencheram, que nossos abraços fizeram o mundo parecer menos frio.

Assim que eu virei pra esquerda e te disse adeus, São Paulo parecia ter mudado de cor. Escureceu dentro de mim... Pensei em tanta coisa e ao mesmo tempo em nada. Acho que no fim, nós fomos um pouco assim, tudo e nada. 

O cinema numa terça, as ligações de madrugada, as sobremesas num bistrô no Jardins. Desculpa que eu não sou tão doce quanto aquela torta de maçã que você amou. Me perdoe por isso, por ontem, pelo amanhã. Promete não se prender nos abismos de tudo que eu não fui capaz de te oferecer. 

Se eu pudesse, meu bem, eu ficava. Ficava e tentaria ser um pouco daquele filme que não conseguimos ver juntos, mas que eu insisto que você termine. Eu seria mais encontros, menos despedidas. Mais certezas, menos promessas. Mais beijos, menos deixa pra depois. Seria mais entrega, mais portas abertas. 

Enquanto eu dirigia, impulsivamente pensei em parar naquela pizzaria de esquina e fotografar as frases escritas nas paredes. Pensei em voltar pra aquele bar onde tudo começou entre uma cerveja e um mojito. Pensei em revisitar aquele aeroporto onde nossos olhares se escondiam entre o check in e o desembarque. Talvez, você ainda veja um pouco da minha vida por trás de todos os filtros do instagram, talvez meu nome apareça em alguma lista, quem sabe a gente não se cruze em um café.

Quem sabe ainda, eu não esteja na sua frente em uma fila e já adiante seu pedido, que eu já sei de cor; um café e um recomeço, por favor. Crédito ou débito? À vista, já que cansei de parcelar esses sentimentos. Meu bem, se eu pudesse eu simplesmente ficava.

Ficava e te dizia que você faz as coisas serem mais verdadeiras. Se eu pudesse, eu ficava e cuidava do que você tem de mais precioso. Ficava e garantia que seu coração não se perdesse na multidão. Mas, como você mesmo disse, talvez você tenha se apaixonado por uma outra versão de mim. E por isso, eu não posso me permitir pedir desculpas. 

Mas, apesar de tudo e mesmo assim, se eu pudesse, eu ficava. 


quinta-feira, 16 de abril de 2015

O que tiver que ser, será.






Sempre ouvi muito a frase "o que tiver que ser, será''.  Inúmeras vezes a repeti como palavras de incentivo, conselhos, mantra. Talvez, tenha demorado para realmente entender seu significado, conseguir de fato absorver tudo que ela representa.

Existem momentos que passam por nós, desmontam nossas estruturas, nos fazem repensar atitudes e ações e, o mais importante, são capazes de nos transformar. São nos momentos que vemos nossos planos mudarem repentinamente, sem escolha ou condicionalidade, que percebemos o nosso próprio tamanho. E com isso eu quero dizer o quanto nós conseguimos ser fortes. O tamanho da nossa força.

Quando a vida prega uma peça ou quando o destino resolve traçar novos caminhos para nós, na maioria das vezes, não somos capazes de aceitar que simplesmente não era a nossa hora ou nosso lugar. O maldito timing. Alguns podem dizer que é tudo uma questão de sorte. Eu digo que é uma questão de perspectiva. Engana-se quem acredita ser dono do próprio nariz. Existe algo muito maior, chamem do que quiser. Existem todas as energias que reverberam dentro e fora de nós. Existe o fato de que talvez, por pior que isso pareça, nós não sabemos o que é melhor para nós, agora ou mais pra frente. O agora, inclusive é a nossa única certeza. No próximo segundo, milhares de possibilidades estão na nossa frente, prontas para nos testar, nos fazer enxergar algo que nem sabemos o que ao certo.

Ouvi recentemente que devemos agradecer o que nós temos. Será que eu já tinha parado para pensar em quanta coisa me cerca? Em quanta positividade eu sou capaz de atrair, justamente por toda essa gratidão nas "pequenas" coisas? Acho que muito vem da maturidade de entender que o melhor para mim, não depende, única e exclusivamente do meu esforço ou do tamanho da minha vontade.

As decepções fazem parte do crescimento, e ele é o que nos move. Quem serei eu, no futuro, depois de tudo isso? O que nós vamos fazer depois que as rotas se alteraram e os planos foram trocados é o importante. E é aí que entra a transformação. Ela sim, depende de nós e do quanto colocamos a nossa mente, corpo e muitas vezes, alma, para fazer com que ela aconteça.

E no fim, basta respirar, acreditar e agradecer. Tudo vem para o bem, e o que tiver que ser, enfim, será. 

domingo, 28 de setembro de 2014

ainda é


Leia ao som de Photograph - Ed Sheeran


pela tua sombra consigo ver tanto,
do que ficou,
do que deixou de ser,
mas,
que permanece.

abre buracos maiores que o silêncio,
latente,
sem cor,
vazio.

é sobre nós

sempre foi,
seu carro,
chuva,
palavras jogadas no ar.

a falta de ar e todos os restos de soluços,
meu monólogo,
seus instantes,
nossos infinitos.

e todas aquelas pontes que um dia a gente sonhou,
um dia construir,
desmoronaram,
e se perderam nos calendários,
no tempo.

momentos,
espaços
gritos
portas fechadas
olhares.

nada mais do jeito que era
bonito,
leve,
sem medo.

talvez
a gente ainda seja um pouco daquela foto borrada,
e se reconstrua aos pedaços,
refazendo,
transcrevendo,
transcendendo quem a gente é,
verdadeiramente
juntos.

esses desencontros,
encontros,
de passagem,
pra agora
ou
pra mais tarde,

tudo
nada,
esse jogo de tudo ou nada.
8,
80.

isso aqui,
e aquilo ali
eu aqui,
tudo

tudo ainda é sobre nós.





terça-feira, 26 de agosto de 2014

Busca







De tempos em tempos a gente se perde. Eu me perco. Me embaralho entre as palavras cruzadas da rotina, me seduzo por vitrines mentirosas, deixo-me levar por verdades escritas sob guardanapos em um bar qualquer.

Confundo-me ao falar sobre o futuro ou sobre aquelas vontades escondidas debaixo do tapete. Será que existe hora certa pra destrancar tudo que vem preso dentro de alguém eu já nem reconheço mais? Quando foi que a pressa passou por mim, redesenhou meus mapas, quis consertar as linhas tortas dos meus rascunhos e a incompletude dos meus monólogos das três da manhã?

Já me disseram que é de degrau em degrau que chegamos na porta dos nossos sonhos. Que não adianta cortar caminho, subir pelo elevador, sucumbir aos atalhos. Eles podem parecer a solução imediata, mas não são capazes de desvendar o que está por trás de cada passo, de cada esforço interno, de cada suspiro que a gente dá quando perde o fôlego.

E as decisões mais difíceis a serem tomadas talvez nem sejam as que nos tiram o sono. Talvez, sejam aquelas mais perto de nós. As que estão ali, somente a espera de um sim ou de um não. Elas enxergam o nosso receio de tomar uma atitude e por isso, constantemente aparecem para nos lembrar que "ei, eu to aqui", o que você vai fazer em relação à mim? E nessas horas, não há remédio que te ajude, simpatia que escolha por você, conselho ou horóscopo que indique o caminho. É você com você mesmo.

Sou eu comigo mesma. E na realidade  ninguém consegue escolher quando está pela metade. Ninguém pela metade consegue agir de forma completa. Inteira. Não se constrói pontes com cacos. Nenhuma verdade é feita baseada em um conjunto de mentiras. E nada é capaz de apagar o que já foi feito.

Mas, no meio de tudo isso, atrás de cada pontada de medo, existe a fé. E é ela que faz a gente continuar. Que me faz acreditar que minhas escolhas são apenas um reflexo do que eu sou. Do que eu continuo sendo e evoluindo todos os dias. 

Quem sabe a gente precise viajar. Cruzar o oceano para descobrir que o que a gente procura não consta nos mapas, no google ou nas estrelas. Que o que a gente busca está mais próximo de nós do que imaginamos. Quem sabe, a gente só precise caminhar alguns passos para traçar uma rota infinita que leva ao nosso coração.

E no fundo, o que a gente procura não é nada muito além do óbvio e distante do espelho. A busca, é por nós mesmos. Não importa quanto tempo leve ou a que intensidade essa busca prossiga. O importante é que ela exista. Sempre.






segunda-feira, 7 de julho de 2014

Ama






"A gente ama fora dos ponteiros do relógio. No calor do descompasso, na memória ofuscada de um fim de domingo. Ama quando a rima esquece o poema ou quando eu te desconstruo numa fotografia borrada. Ama quando o tempo passa devagar, quando seu sorriso vira música. Ama numa folha de guardanapo, num rabisco torto, num olhar certeiro.

A gente ama quando o choro vira soluço. Quando o abraço afasta a dor, quando a dor vira lembrança distante. A gente ama de perto, por dentro do cobertor numa cama de solteiro. Ama quando o vinho aquece a alma, e a alma é você. Sou eu. Nós.

Ama quando o beijo enche o peito, e o peito grita amor. Ama quando a sombra vem em dobro, quando as mãos se encaixam . Quando os olhos se encontram. Ama num esbarrão, num suspiro, no silêncio. Ama no que não é dito. A gente ama no sufoco da saudade.

Ama quando não existem motivos. Ama sem as contas matemáticas. Ama na ilusão de um cálculo errado. A gente ama de dentro pra fora. Ama na ressaca. Ama nas desculpas e nas flores. Ama nos cartões mal escritos, nos enganos. A gente ama nos tropeços.

Ama nos caminhos mais errados. A gente ama no tiro que dói. Ama nas feridas abertas. Ama quem cura as cicatrizes, ama os remendos. A gente também ama os retalhos. Ama os restos.

Ama no vazio. A gente ama no escuro. Ama no que não enxerga. Ama nos gestos. Ama na falta de palavras. Ama a intensidade, ama o apego. A gente ama no carinho. Ama na indiferença.

Ama quando precisa. A gente ama pra completar. Ama pra preencher."

terça-feira, 17 de junho de 2014

00:00





"Te escrevi. Reescrevi. Rabisquei tantas linhas tortas. 
Descrevi nossos vazios, apaguei com corretivo os abismos de nós.   
Me esforcei narrando você.  Só você. 
Te eternizei nesses rascunhos de algo que nunca existiu.
As palavras transformaram-se em pesos que eu carrego comigo.
Meus poemas agora acompanham o ritmo apressado dos meus passos. 
Eles não caminham por você, mas sempre acabam te encontrando.
Ou vice versa.
Talvez, a gente só funcione depois da meia noite.
Do avesso.
Ao contrário.
De pertinho.
Com você tentando entender meus olhares. 
Por dentro dos meus déjà vus.
Atrás da fumaça do seu cigarro.
Quem sabe das cinzas tudo isso seja capaz de renascer...
Na superfície do nosso entrelaçar de mãos ou no infinito que existe no que eu não digo...
É maior que qualquer espaço. Ocupa os milímetros que nos aproximam.
Afasta as imensidões do seu silêncio.
E cala todo o ressoar do que você tem a dizer.
Não importa.
Talvez, a gente só funcione depois da meia noite.
E eu...
Eu te quero bem antes disso."



quinta-feira, 1 de maio de 2014

Restos.



"Não restam palavras.
Sequer sobraram poemas.
Evito perder meus olhares no seus.
Percorro nossos caminhos ao contrário.
Mudo minha rota pra me distanciar da sua escuridão.
Apago a luz, troco de música, cruzo os braços.
Faço mil muralhas com a força que resgatei depois que você se foi.
Deixo para você essas minhas demonstrações de indiferença, inéditas.
Encontro desvios, esbarrões e tropeços longe do seu abraço.
Fujo do cheiro do seu perfume. 
Surpreendo-me com seus pedidos fora de hora. 
Você não entende meus nãos.
Eu nunca entendi você. 
E esse despedida...
Premeditada. Esperada. Demorada.
Será que é assim, você me encarando da porta?
Meu cabelo encostando em você nesse milésimo de segundo.
Seus meios beijos de tchau sem jeito.
Sabe, não restam nem palavras.
Sequer sobraram meus poemas.
Não me pede mais do que deve.
Repete todas as frases ditas daquele dia de chuva.
E faz chover para levar tudo embora.
Não restou nada.
E o pouco, não me basta.
Não é suficiente."



segunda-feira, 7 de abril de 2014

Nó.



"A verdade é que não necessariamente as coisas estão ao nosso alcance quando desejamos. Os erros que insistem em marcar presença mesmo por detrás dos sorrisos mais sinceros fazem tanta coisa se perder. Fazem com que a nossa até então plenitude, transforme-se num emaranhado de nós que nem nos lembramos de ter feito.

E é tentando desfazer os nós que criamos que nos deparamos com as decepções. Entre um fio mais solto que outro, aparece um diálogo que não faz sentido, uma briga por motivos impulsivos e histórias que parecem não ter fim. E logo ali, mais acima de todos os fios está a nossa consciência.

É ela que deve, ou pelo menos deveria, nos guiar nas nossas ações, desde os atos mais simples até ao "eu te amo" mais difícil de ser dito. Do "bom dia" às despedidas mais doloridas. É a consciência do nosso corpo, da nossa mente e das nossas atitudes a responsável pelas consequências no nosso futuro. O futuro, aliás, assusta. Pra você não? Até onde meus esforços valerão á pena, ou até que ponto tudo que eu fiz e deixei de fazer será recompensado? E precisa de recompensa?

A consciência, às vezes, se faz distante, quase que inatingível. Inclusive, dizem por aí que a maior distância do mundo é entre a cabeça e o coração. No meio do caminho, entre um ato totalmente racional e um abraço, tanta coisa muda. Entre uma fala mal interpretada e um conselho que não foi ouvido, a gente já mudou mil destinos e nem sabe. Passamos por cima de coisas que a nossa consciência insistentemente tentou nos avisar, mas que nosso orgulho nunca deixou ser completado; que nosso medo do "depois" foi maior, nos cegando do certo. Falando nisso, você já fez o certo, hoje? O que de fato, é o certo? A voz da nossa consciência, talvez.

Os erros que cometemos, as verdades que deixamos de dizer, as constatações dolorosas que precisamos ouvir, os diálogos que deixamos incompletos, os passos que traçamos sem consultar um mapa, absolutamente tudo vai abrindo buracos nos nossos caminhos, afetando cada centímetro do nosso corpo, alma e consciência.

O desafio não é saber lidar com as perdas, quando ficar calado em uma briga, quando tomar partido, quando dar um abraço amigo ou desvencilhar-se de um beijo roubado. O (nosso) meu grande desafio é desfazer cada pequeno nó sem deixar rastros, resquícios, restos de problemas. Sem afetar quem deu o laço mais forte, quem se soltou dos nós mais frouxos. É uma missão quase que impossível se encontrar em meio à bagunça. Se encontrar sozinho.

Afinal, nenhum nó dói tanto quanto o da nossa garganta."

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

(In) Fiel

"O amor é isso.
Não prende, não aperta, não sufoca.
Porque, quando vira nó, já deixou de ser laço."
Mário Quintana







De todas as minhas verdades, você sempre foi a mais fiel. A que correspondia melhor aos sentimentos perdidos dentro de mim. A verdade mais sincera e sem medidas que meu peito pôde suportar. 

De todos os meus contos, você sempre foi aquele que não tinha final. Que eu não tinha coragem de digitar o ponto final e encerrar. Você foi a personagem que ganhou capítulos extras, mesmo depois da tinta da caneta acabar. Quando se tratava de dissertar sobre ti, apenas fechar os olhos era suficiente. Te ver era supérfluo perto da minha imaginação quase que infantil e fantasiada.

Desenhei mais de mil máscaras pra você. Escondi seus defeitos em adjetivos bonitos e frases de efeito. Todo meu amor foi debruçado entre linhas que não parecem nem um pouco corretas agora.

Por muito tempo você roubou a beleza das coisas ao meu redor. Tirou meu foco, minha visão e meus sentidos de tudo que era leve. Ao contrário de você, a vida tem lá suas doçuras sem disfarce.

O medo de ir adiante por querer caminhar no escuro com você, passou. Talvez, hoje, eu finalmente desate nossos nós tão bem amarrados em lugares distantes. Deixei de lado todas as (falsas) certezas de uma verdade que não passava de ilusão.

Por querer te consertar, me quebrei. Desfiz-me em mil pedaços para ter como recompensa os cacos de um coração de vidro. Em suas respostas vazias, no nada e no pouco que você era capaz de me oferecer, eu me rendi. 

Me despeço, me entrego, me encontro.

De todas as minhas verdades, você sempre foi a mais (in)fiel.


sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Rascunho de nós

Leia ao som de "Night Time" - The XX
"You mean that much to me
And it's hard to show
Gets hectic inside of me
When you go
Can I confess these things
To you?"





"Enquanto a caminhada ainda é suficiente para afastar todas as memórias latejantes de nós dois, eu continuo a respirar. Tropeço nos retalhos de uma história que eu insisto em remendar, mas, que aos olhos de quem vive sem chegadas e partidas, não vale à pena.

Clica no pause. Você tá sentado? O que eu estou prestes a te mostrar não é fácil de se absorver. Me diz que você tá calmo, por favor. Promete não levantar e sair no meio dessa tentativa torta de te mostrar umas verdades escondidas pelo tempo?

Ali, bem no canto desse vídeo. Tá vendo? É você. Eu sei, seu cabelo era diferente e hoje eu não uso mais all star. Mas, enquanto você se oferece pra amarrar meu cadarço solto, eu mal posso prever que tardes depois essa será uma das minhas lembranças mais doces.

Entre os sorrisos dessa cena distante e o próxima sequência de abraços apaixonados, tenta lembrar dos porquês. Talvez, nessa época eles nem existissem. Eu e você eramos um rascunho escrito sem querer no meio das correrias da vida.

Agora vem uma das minhas partes favoritas. Não sei se pra você isso significou alguma coisa, se por dentro de você a respiração ficou mais forte e se seus olhos cintilaram ao encontrar meu reflexo. É o seu abraço. São seus braços que afastam todos os problemas do universo. Essa é a primeira vez que você fez questão de mostrar pro mundo a nossa felicidade. Nós. Lembra como meu sorriso denunciava a imensidão de ter você perto de mim?

Eu me perdi em mil abraços errados só pra perceber que o melhor lugar do mundo de fato não é um lugar. É você. 

Stop. As imagens tão fortes pra você ou seu coração aguenta ver os nossos pedaços tão perfeitamente encaixados serem despedaçados? Me diz se quiser que eu pare. É como um vidro estilhaçando em um milhão de cacos e abre feridas que nem os melhores remédios foram capazes de curar. Dói ver os meus caminhos se perderem dos seus.

É frustrante não encontrar o começo do fim. Me arrisco nas discussões às terças ou na sua tentativa de retomar tudo do último toque. Duvido que tenha sido minha capacidade de me deixar levar pelos sentimentos que não paravam de chegar. Quantas vezes me arrisquei dizendo que o meu mundo era seu? Esqueci que a lógica traz consigo a bagunça que você causou. Acho que não aprendo que foi tudo uma questão de escolha. Aliás, da falta dela. Você não foi capaz de me oferecer condicionalidade ou proposta, simplesmente saiu. Bateu a porta e foi.

Só entende que essa nossa nova versão não corresponde ao meu amor. Suas mesmas justificativas não combinam com a forma que você insiste em me olhar.

E o que bate dentro de mim continua escapando por meio das lágrimas que eu evito te mostrar. Minha discrição tem um limite e ele está cada vez mais próximo de um fim. Mas, sinceramente, já não faz diferença. Agora você sabe. Você sempre soube."